A defesa da designação "Arte Urbana".
Texto publicado na primeira brochura da Galeria de Arte Urbana (que está incluída na caixa dos "postais" com as fotos das primeiras intervenções nos painéis da Calçada da Glória, Janeiro 2009):
O termo Arte Urbana surge inicialmente associado aos pré-urbanistas culturalistas como Ruskin ou Morris e posteriormente ao urbanismo culturalista de Sitte e Haward. A designação “culturalista” tem o cunho de Françoise Choay. O termo era usado (em sentido lato) para identificar o “refinamento” de determinados traços, no desenho da cidade, executados pelos urbanistas.
A necessidade de incorporar desvios imprevisíveis que ocorrem ao longo do tempo conduziu a uma maior flexibilidade nos planos urbanísticos que culminou na mudança de representação de planos–imagem para planos de gestão. Este facto fez cair em desuso o termo Arte Urbana, ficando a relação entre Arte e cidade confinada à expressão Arte Pública.
Arte Pública é necessariamente consentida, adjudicada, servindo os interesses de quem a encomenda e a expõe visivelmente ao colectivo. Tem de alguma forma afinidades com a publicidade, no sentido em que transmite uma ideia forte no espaço colectivo. Porém, e como é evidente, deve comunicar causas nobres que a todos dizem respeito.
Devido à dificuldade de enquadramento das inscrições murais feitas à revelia das autoridades e proprietários no conceito de arte pública assistimos actualmente a um ressurgimento da designação de “Arte Urbana” que passou a incluir todo o tipo de expressões criativas no espaço colectivo. Esta designação adquiriu assim um novo significado e pretende identificar a Arte que se faz no contexto Urbano à margem das instituições públicas.
Este processo de reciclagem da expressão “Arte Urbana” , de contornos claramente globais e ligado a questões ambientais e sociais, sublinha a importância vital da participação das populações, tal e como foi deliberado na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento (1992) e que conduziu à elaboração do projecto das agendas 21 locais.
Será a Arte Urbana, levada a cabo por poucos, um acto pioneiro e um exemplo a seguir por todos nós, cidadãos? Devemos nós ser activos no espaço colectivo por forma a transformá-lo em espaço público efectivo? O despertar do “sentido do cuidar” é essencial, e deverá ser o mais inclusivo possível.
A expressão “Arte Urbana” põe em evidência uma nova dimensão da cidade: a cidade como organismo vivo que se constrói e cria de uma forma espontânea, natural e livre. Assim sendo, e à luz deste novo enfoque, o projectista actual terá, incontornavelmente, que ser sensível e proceder à integração das diversas dinâmicas de apropriação da cidade no desenvolvimento da mesma.
É necessário encarar a Arte Urbana como algo sério e com características próprias, como uma espécie de força da natureza que deve ser necessariamente considerada ainda que não venha a ser contemplada no projecto.
É importante dinamizar o conhecimento e aproximação (mesmo que através de formas simbólicas ou representativas) dos executantes aos projectistas e dos projectistas aos cidadãos.
Em suma, tudo se resume às decisões e acções aparentemente imperceptíveis de cada cidadão , levadas a cabo individualmente ou em grupo, para com o espaço colectivo ,assim tornado público.
A Arte Urbana é afinal uma prática ancestral, vigorosa e fecunda e que é partilhada por todos, técnicos, artistas e cidadãos.
Pedro Soares Neves, Designer Urbano
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
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